Como hoje é 20 de Setembro vamos falar sobre um ilustre Gaúcho que fez sucesso até mesmo no exterior. Um Gaúcho que em uma época onde carros importados ainda eram um sonho distante, e muitas montadoras mantinham os mesmo modelos por anos sem grandes mudanças, ousou ser esportivo, luxuoso e inovador. Sim, estamos falando do Miura.
Nos anos setenta a restrição de importação de carros (que durou até a década de 90) e os poucos modelos esportivos oferecidos pelas montadoras, fez surgir um grande número de veículos artesanais, que na maioria das vezes utilizavam mecânica Volkswagen e carroceria em fibra de vidro. Muitos desses carros se tornaram um sucesso entre o publico que procurava exclusividade, mas nenhum conseguiu o mesmo nível de acabamento e luxo do Miura.
A história do Miura começa em
1974 quando os sócios Aldo Besson e Itelmar Gobbi (proprietários da Aldo Auto Capas) perceberam que havia espaço
no mercado brasileiro para um carro esportivo que possuísse uma mecânica simples
ou já bem conhecida, mas com a beleza e sofisticação do designe europeu. Com a proibição
da importação de carros em 1976 o projeto ganhou mais força, e eles contrataram
o designer Nilo Laschuk que possuía experiência em carrocerias de fibra de
vidro.
Com faróis escamoteáveis,
interior luxuoso, vidros de portas sem quebra vento, limpadores de para-brisa que
só eram visíveis quando em funcionamento e motor traseiro, o Miura com sua carroceria
em fibra de vidro lembrava muito os esportivos europeus, e em uma época de
carros arredondados seu desenho de linhas retas era uma grande inovação no país. Fabricado
sobre a plataforma Volkswagen ele era relativamente longo com 4,30 metro e
baixo 1,17m, mas era mais pesado que os veículos da montadora, pesando mais de 900Kg.
A mecânica possuía um desempenho
modesto para um veículo considerado esportivo. Utilizando o motor 1600 de
carburação dupla do Fusca, câmbio e suspensão de Brasília, o Miura chegava a
135 Km/h com aceleração de 0 a 100 em
cerca de 23 segundos.
O Miura Targa foi
lançado em 1982, com linhas parecidas com o antecessor, mas com chassi tubular de aço e
motor de Passat na dianteira. O Targa usava a suspensão dianteira McPherson e
eixo rígido na traseira, que eram mais eficientes. Agora com menos peso e motor mais
potente o Miura alcançava bom desempenho. No final de 82 era lançado também o
modelo conversível Spider, que utilizava a mesma mecânica do Targa.
Em 1984 foi lançado o Saga, um cupê três volumes com 4,53 metros de comprimento e 2,58 entre eixos era
o mais amplo dos Miuras e utilizava o motor 1.8 do Gol GT da
Volkswagen. Em 1986 o Saga com todos seus
opcionais era mais caro que o Alfa Romeo 2300, fazendo do Miura um dos carros
mais luxuosos do país. O modelo trazia inovações como as travas elétricas nas
portas acionadas por controle remoto, um sistema de mídia com um pequeno
televisor no centro do painel, ar condicionado e bar refrigerado no banco
traseiro. Mas o maior requinte dos modelos era o sintetizador de voz, que pedia
ao motorista para colocar o cinto, avisava se o freio estacionário estava
acionado, pedia para travar as portar ou se o carro precisava ser abastecido.
Além do painel completo o carro ainda possuía teto solar, equalizador no
sistema de som e volante com ajuste elétrico.
Muitas dessas inovações eram
raras até mesmo em veículos estrangeiros na época, e a maioria demorou décadas para
ser incorporada pelas montadoras nacionais.
Em 1988 o Miura passou a usar o
motor 2.0 a álcool de 110cv do Santana. O Saga agora redesenhado ganhou o nome
de X8, que passava a ter um vidro envolvente no porta malas (lembrando muito o
Corvette), possuía ainda teto com pintura preto fosco e o mais exótico (ou
estranho) de todos os itens: luzes de neon que envolviam os para-choques. Em 1990 o Miura passou o usar injeção eletrônica
do Gol GTi, amortecedores com controle de carga no painel e freio ABS.
Um detalhe interessante sobre a
história do Miura é que o carro foi exposto no North Miami Beach Auto Show de
1988, e se tornou um grande sucesso da feira, gerando mais de 4.000 pedidos. Os
carros usariam a assistência técnica da Chrysler e motores e transmissão do
Dodge Daytona. Infelizmente o acordo com a montadora norte americana não se
concretizou e apenas dois carros foram vendidos.
Infelizmente o Miura não
sobreviveu a chegado dos importados no inicio dos anos noventa, e sua produção foi encerrada em 1992. Um carro a frente do seu tempo, que trouxe ao
Brasil tecnologias que eram ainda inéditas na indústria automobilística nacional e até hoje é o sonho de consumo de muitos brasileiros.
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